Crítica | Persona

Ingmar Bergman foi um diretor que conseguiu transferir para imagens todas as questões que assombram a humanidade. Ele conseguiu fazer o que poucos puderam - mergulhou fundo na alma humana; nos fez refletir, pensar e questionar.

A vida é complicada. A vida é cheia de perguntas, que raramente recebem respostas. E é exatamente assim que me senti após assistir Persona.

O longa começa com imagens supostamente desconexas - um filme que passa por um projetor e se incendeia; um prego sendo enfiado em uma mão; um garoto que não consegue dormir; o garoto admirando rostos femininos em uma tela.

Então, aparecem os créditos e somos apresentados a Elisabet Vogler (Liv Ullmann) e Alma (Bibi Andersson). Vogler é uma atriz que travou durante uma apresentação da tragédia grega Electra e, desde então, não fala mais. Aparentemente, ela está bem - tanto fisicamente quanto mentalmente. Seguindo ordens de sua doutora, é enviada para uma casa na praia, isolada de todos, tenho como única companhia a enfermeira Alma.

O isolamento faz com que as duas aproximem-se até que suas personalidades passem a agir como uma só, como se tivesse ocorrido uma fusão entre as duas.

O diretor estava internado em uma clínica quando começou a realizar anotações que futuramente tornariam-se o roteiro de Persona. Mais tarde, ele e Liv Ullmann se apaixonaram. Não se casaram, mas viveram e filmaram juntos por muitos anos.

Segundo Bergman, o filme salvou sua vida. Dedicar-se à Persona fez com que ele se sentisse como um artista novamente.

A fotografia de Sven Nykvist é sensacional. As cenas do longa são de uma beleza plástica indescritível, principalmente a inesquecível tomada em que os rostos das atrizes se fundem.

Liv Ullmann e Bibi Andersson estão fenomenais. É impossível separá-las, de forma que uma completa a outra. Ullmann passa a maior parte do filme calada, atuando apenas com seu corpo, especialmente com seus olhos.

No Brasil, o filme recebeu o péssimo título Quando Duas Mulheres Pecam. E mais uma vez os tradutores erram feio. O nome passa a ideia de um longa sobre lesbianimo, mas não chega nem perto do que realmente é.

Persona significa máscara. E não é à toa que o nome do filme é esse. É uma incrível análise sobre a existência; um maravilhoso estudo sobre as máscaras usadas por nós, humanos. 

"Eu entendo muito bem. O inútil sonho de ser. Não parecer, mas ser. Estar alerta em todos os momentos. A luta: o que você é com os outros e o que você verdadeiramente é. Um sentimento de vertigem e a constante fome de finalmente ser exposta. Ser vista por dentro, cortada, até mesmo eliminada. Cada tom de voz, uma mentira. Cada gesto, falso. Cada sorriso, uma careta."
- Doutora (Margaretha Krook)
Ficha Técnica:

Nome: Persona
Ano: 1966
Diretor: Ingmar Bergman
Elenco principal: Liv Ullmann, Bibi Andersson
Saldo final: 5/5

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